Terapia Tumor Agnóstico: o que é?
Postado em: 17/07/2023
A maioria das terapias contra o câncer é desenvolvida para tratar um tumor originário em um órgão ou tecido específico, por exemplo, câncer de mama ou pulmão. O tratamento tumor-agnóstico é uma forma de utilizar o mesmo medicamento para tratar qualquer tipo de câncer, independente do órgão ou tecido em que o tumor se origina, desde que o tumor contenha entre suas características moleculares a presença de um alvo comum.
O tratamento tumor-agnóstico representa uma nova maneira de pensar sobre as terapias contra o câncer, diferente dos esquemas de quimioterapias tradicionais. Com este tipo de tratamento, o teste genético (sequenciamento de nova geração, do inglês next generation sequencing -NGS) ou de outras características moleculares do tumor possibilita que os médicos decidam quais tratamentos podem ser mais eficazes para o paciente, independentemente da localização ou de sua aparência ao microscópio.
Esse teste molecular torna-se assim um elemento essencial no planejamento do tratamento. Este é um passo natural no desenvolvimento dos medicamentos personalizados ou de precisão para o tratamento do câncer. Um exemplo é a presença da fusão do gene NTRK, presente em uma minoria de cânceres de diversos órgãos, mas que respondem universalmente a uma medicação que atinge esta fusão.
Esses tratamentos direcionados podem induzir respostas mais efetivas e com menos efeitos colaterais do que outros tratamentos como a quimioterapia (que é inespecífica e afeta tanto células tumorais quanto células normais).
Abordagem tumor-agnóstica para câncer em crianças
O câncer infantil é uma doença relativamente rara, uma vez que constitui menos de 1% de todos os cânceres diagnosticados no mundo. De todos os tipos de câncer e tumores que aparecem, os hematológicos e os que afetam o sistema nervoso central são os mais frequentes.
Em alguns tipos de câncer, a causa pode ser uma alteração no DNA, como ocorre nas chamadas fusões gênicas, em que um gene se une a outro gene diferente, dando origem a proteínas anormais que causam o crescimento descontrolado das células.
Existem casos que afetam genes como NTRK, ALK ou ROS1. Essas alterações são encontradas em cerca de 1% dos tumores sólidos em adultos, mas em tumores infantis específicos, como o fibrossarcoma, a prevalência é muito maior, chegando a mais de 75%, e no glioma é próxima de 40%. Apesar dos avanços significativos na abordagem dos tumores infantis nos últimos anos.
Alguns elementos que apresentam desafios adicionais nesse tipo de tumores são a fisiologia infantil em si, a escassez de estudos padronizados para orientar os resultados, bem como a dificuldade em encontrar a formulação ideal do medicamento e determinar a dose eficaz e segura para crianças.
Por esta razão, o uso de novas técnicas de diagnóstico como sequenciamento de nova geração, do inglês next generation sequencing (NGS), é essencial em pacientes pediátricos. Essas técnicas permitem identificar alterações genéticas específicas que podem ser responsáveis pelo aparecimento do câncer infantil e, com isso, abrir as portas para um tratamento personalizado e pensado para aquela alteração genética.
Uma nova perspectiva dentro da oncologia
O tratamento do tumor-agnóstico representa uma nova maneira de pensar sobre as terapias contra o câncer, diferente dos esquemas de quimioterapias tradicionais. Uma vez que você pode fazer uma avaliação genética prévia do tumor, antes de escolher o tratamento a ser instituído, garantindo resultados com maiores taxas de resposta associado a menos toxicidade.
No Brasil, temos a aprovação do uso de terapia agnóstica para os pacientes que apresentam fusão no NTRK, independente do sítio de desenvolvimento tumoral. A imunoterapia também apresenta-se como importante arma contra tumores que apresetam carga tumoral mutacional alta ou instabilidade-microssatélite.
As perspectivas são as melhores, pois, dessa forma, os tratamentos ficarão cada vez mais personalizados e com maior precisão, porém existirá a dificuldade do acesso aos testes genéticos e as medicações, que geralmente apresentam um custo oneroso.
Dr. Marcelo Cruz é médico pela UNICAMP, oncologista clínico do Hospital Sírio-Libanês São Paulo, Fellow do Programa de Desenvolvimento de Novas Terapias (Developmental Therapeutics Program), mestre em Pesquisa Clínica pela Feinberg School of Medicine Northwestern University, Chicago – EUA.
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