Cresce o número de pacientes jovens com câncer: O que pode estar por trás?
Postado em: 30/10/2024
Nos últimos anos, o número de casos de Câncer em jovens tem crescido significativamente, especialmente entre adultos com menos de 50 anos, uma condição conhecida como câncer de início precoce (early-onset cancer, ou EOC).
Desde os anos 1990, a incidência desse tipo de câncer aumentou quase 80%, acompanhada de um crescimento de 27,7% nas mortes relacionadas.
Diante desse cenário, pesquisadores buscam entender os fatores que impulsionam essa tendência, incluindo aspectos comportamentais, ambientais e de saúde pública.
Quero discutir com mais detalhes sobre esse assunto no conteúdo a seguir, com base em estudos recentes.
Todas as informações deste texto foram retiradas de um artigo publicado por Shuji Ogino no Esmo Daily Reporter, em Setembro de 2024, sobre o tema em questão.
Convido você a continuar a leitura para saber mais.
Principais fatores associados ao aumento do câncer em jovens
Mudanças nos padrões alimentares e no estilo de vida desde meados do século 20 são fatores amplamente reconhecidos no aumento da incidência de câncer entre os jovens.
O consumo de dietas ocidentais, ricas em alimentos ultraprocessados e em gordura, tem sido relacionado a um maior risco de diferentes tipos de câncer, como o colorretal.
Além disso, outros fatores, como o consumo elevado de álcool, a inatividade física, distúrbios do sono e a exposição a substâncias químicas, contribuem para o surgimento de casos de EOC.
O excesso de peso é um fator de risco importante em todas as idades, mas entre os jovens, a conexão com o câncer colorretal é ainda mais evidente, especialmente quando combinado com níveis elevados de glicose em jejum.
Essa relação reforça a importância de políticas de prevenção voltadas para essa faixa etária, uma vez que o IMC elevado está associado ao aumento de vários tipos de câncer, incluindo o de mama e o de cabeça e pescoço.
Variações geográficas na incidência de câncer de início precoce
O aumento da incidência de câncer entre os jovens não ocorre de maneira uniforme em todo o mundo.
Por exemplo, entre 1990 e 2019, a incidência de câncer colorretal em jovens cresceu 64,3%, com os maiores aumentos ocorrendo na Austrália, América Latina, Europa e Ásia.
Enquanto isso, o câncer de mama de início precoce teve a maior incidência global em 2019, com uma taxa de 13,7 casos por 100 mil habitantes.
Embora países com alto índice sociodemográfico apresentem as maiores taxas de incidência, os países de índice sociodemográfico médio foram os que registraram o maior crescimento desde 1990.
Tendências por tipo de câncer em jovens
Diferentes tipos de câncer apresentam aumentos específicos de incidência em pacientes mais jovens.
Um estudo realizado na Espanha, com mais de 24.500 pacientes diagnosticados entre 1998 e 2021, revelou que o crescimento anual médio da incidência de cânceres de cabeça e pescoço, colorretal, linfoma não Hodgkin, melanoma, câncer de ovário e sarcoma foi mais acentuado em pacientes com menos de 40 anos do que em indivíduos mais velhos.
Essas tendências sugerem que os fatores de risco para o câncer de início precoce podem ser diferentes dos observados em pacientes mais velhos.
Fatores genéticos, como mutações hereditárias, podem ter um papel relevante, mas o impacto de comportamentos e exposições ambientais parece ser mais pronunciado entre os jovens, indicando a necessidade de estratégias de prevenção mais específicas para essa faixa etária.
O papel da pesquisa na compreensão do câncer de início precoce
Para enfrentar o aumento dos casos de câncer em jovens, é fundamental adotar uma abordagem transdisciplinar na pesquisa, usando frameworks de epidemiologia molecular patológica para identificar os mecanismos etiológicos mais profundos.
Isso inclui ligar biomarcadores de tecido a possíveis fatores de risco, permitindo um entendimento mais preciso sobre as causas do EOC.
Além disso, a colaboração entre pesquisadores de câncer de início precoce e pediatras pode ser promissora para entender o impacto de fatores de risco desde a infância, ajudando a criar estratégias de prevenção mais eficazes.
Conclusão
O aumento dos casos de “Câncer“ em jovens é um problema de saúde pública preocupante, impulsionado por múltiplos fatores comportamentais e ambientais, além de mudanças nos padrões de rastreamento e detecção precoce.
Para abordar essa tendência, é essencial investir em pesquisas avançadas que utilizem metodologias de epidemiologia molecular e em políticas de prevenção direcionadas a jovens.
Um entendimento mais aprofundado dos fatores envolvidos pode ajudar a reduzir a incidência de câncer de início precoce e melhorar o suporte e tratamento para pacientes já diagnosticados.
Convido você a continuar acompanhando meu site e blog para conferir mais conteúdos!
Dr. Marcelo Cruz é médico pela UNICAMP, oncologista clínico do Oncologistas Associados e Grupo Orizonti, Fellow do Programa de Desenvolvimento de Novas Terapias (Developmental Therapeutics Program), Mestre em Pesquisa Clínica pela Feinberg School of Medicine Northwestern University, Chicago – EUA.
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