Papel da microbiota na prevenção do câncer de cólon
Postado em: 09/10/2023
O Câncer de Cólon e Reto (CCR), conhecido também como câncer colorretal, é influenciado por diversos fatores ambientais, tais como hábitos alimentares, incluindo o consumo de carnes vermelhas e processadas, tabagismo, obesidade, diabetes e ingestão excessiva de álcool. Entre esses fatores de risco, a microbiota intestinal emerge como um contribuinte significativo.
A microbiota intestinal humana desempenha um papel protetor em relação ao nosso organismo. Mas o contrário também pode ocorrer, ou seja, a disbiose (desequilíbrio na flora intestinal) da microbiota está associada ao desenvolvimento de várias doenças, uma vez que a microbiota afeta as funções normais do nosso corpo. Existem evidências que sugerem que a microbiota intestinal pode desempenhar um papel na formação do câncer (processo conhecido como carcinogênese), bem como na progressão e disseminação do câncer colorretal.
Ela pode influenciar o processo de formação do câncer de cólon de várias maneiras. Isso inclui a ação de fatores provenientes de microrganismos, como metabólitos ou substâncias que podem danificar o material genético do corpo. Além disso, algumas bactérias podem estar diretamente envolvidas na formação do câncer ou podem se multiplicar de forma oportunista na área ao redor desse tipo de tumor.
Além desses processos diretos, as interações entre o corpo humano e os microrganismos podem acionar sinais no organismo, levando a alterações em nível molecular que contribuem para a progressão do câncer colorretal. Em resumo, a microbiota intestinal desempenha um papel complexo e variado na formação do CCR.
A presença de bactérias no câncer colorretal: o que sabemos até agora
Estudos recentes têm revelado que a microbiota intestinal em indivíduos com câncer de cólon e reto (CCR) difere da microbiota em pessoas saudáveis usadas como grupo de controle.
Pacientes diagnosticados com CCR exibem uma composição específica de bactérias em sua microbiota intestinal, incluindo espécies como:
- Fusobacterium nucleatum
- Solobacterium moorei
- Porphyromonas asaccharolytica
- Peptostreptococcus stomatis
- Parvimonas spp.
- Clostridium symbiosum
- Gemella morbillorum
Estudos iniciais apontam que a composição da microbiota intestinal pode funcionar como um possível biomarcador prognóstico após a cirurgia para câncer colorretal. Descobriu-se que uma maior presença de Fusobacterium nucleatum em amostras de tecido de câncer de cólon está relacionada a um prognóstico menos favorável para os pacientes e à resistência à quimioterapia. No entanto, são necessárias mais pesquisas para definir um biomarcador prognóstico confiável com base na microbiota intestinal, especialmente a partir de amostras de fezes.
Modulação da microbiota intestinal para prevenir o câncer de cólon
É amplamente reconhecido que a reeducação alimentar pode remodelar nossa microbiota intestinal, o que tem gerado interesse em estratégias dietéticas para prevenir o câncer colorretal (CCR) e reduzir sua progressão.
Um estudo nos Estados Unidos mostrou que 38,3% dos casos iniciais de CCR estão relacionados a dietas pobres em grãos integrais, com baixo consumo de produtos lácteos e alto consumo de carnes processadas, sugerindo uma associação entre certos componentes da dieta e o CCR.
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer recomenda moderação no consumo de carne processada. Em apoio a essa recomendação, um estudo com vegetarianos revelou um risco cerca de 20% menor de câncer de cólon em comparação com não vegetarianos.
Além da alimentação, o uso de probióticos específicos tem sido estudado para reduzir riscos de infecções intestinais e inflamação, possivelmente prevenindo o desenvolvimento e complicações do câncer colorretal. Os pós-bióticos, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), também estão em análise como alternativas potencialmente eficazes e seguras em comparação com probióticos. A ideia é que os pós-bióticos possam reduzir a inflamação no cólon e restaurar a integridade da barreira intestinal, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar esses benefícios.
É fundamental discutir com seu médico e nutricionista as possíveis formas de modular sua microbiota intestinal para prevenir ou auxiliar no tratamento do câncer colorretal.
Dr. Marcelo Cruz é médico pela UNICAMP, oncologista clínico dos Oncologistas Associados, Fellow do Programa de Desenvolvimento de Novas Terapias (Developmental Therapeutics Program), Mestre em Pesquisa Clínica pela Feinberg School of Medicine Northwestern University, Chicago – EUA.
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