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O que é medicina genômica?

Impulsionada pelos avanços da genética, a medicina genômica é uma importante área médica que vem revolucionando a forma de promover a saúde. A partir da análise do sequenciamento do DNA, é possível identificar a predisposição a doenças e antecipar os recursos terapêuticos mais eficazes para enfrentá-las, de acordo com o perfil genético de cada indivíduo.

A informação genômica pode ser utilizada para ajudar a diagnosticar enfermidades, prever resultados e orientar tratamentos específicos. Ao adaptar os tratamentos à composição genética única do paciente, esse método reduz os riscos de efeitos colaterais e melhora os resultados de saúde.

A medicina genômica constitui a base da chamada medicina de precisão, possibilitando definir estratégias personalizadas de rastreamento, tratamento e prevenção de doenças, além de incluir o aconselhamento genético individual e familiar através do rastreamento genético de parentes próximos.

Por que a medicina genômica é importante?

A genômica é essencial para a compreensão de como nosso organismo funciona e interage com o ambiente em que vivemos. Já a medicina genômica oferece estratégias eficazes para prevenir doenças ou diagnosticá-las precocemente, auxiliando pacientes e médicos na gestão dos tratamentos. Conhecer com precisão os riscos de desenvolvimento de enfermidades e suas características genéticas individuais permite a adoção das melhores práticas de saúde, incluindo tratamentos personalizados e mudanças no estilo de vida.

Prevenção de doenças

Os testes genômicos permitem aos médicos identificar precocemente diversas condições, muitas vezes antes mesmo da manifestação de sintomas. Isso possibilita a implementação de tratamentos adequados e intervenções preventivas, beneficiando significativamente a saúde dos pacientes. Os cuidados de saúde avançarão mais para a prevenção do que para a cura.

Diagnóstico precoce e preciso

Os testes genômicos, disponíveis em muitos países, permitem que indivíduos enviem amostras de material genético, geralmente saliva, para análise. Estes testes podem identificar distúrbios como distrofia muscular, fibrose cística e síndrome de Down. Em contextos oncológicos, identificam mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, que elevam o risco de câncer de mama e ovário. Empresas oferecem ainda sequenciamento genômico preditivo, que avalia a ancestralidade e identifica genes associados a doenças relacionadas à idade. Os resultados podem orientar ajustes na dieta e estilo de vida para melhorar a saúde e minimizar riscos de doenças.

Terapias personalizadas

A farmacogenômica analisa como o DNA afeta a resposta aos medicamentos. Em certos casos, o DNA pode influenciar se uma reação negativa ocorre ou se um medicamento é eficaz. Essa abordagem pode melhorar a saúde, fornecendo informações antecipadas sobre a eficácia e segurança dos medicamentos. Compreender essas informações ajuda os médicos a encontrar o tratamento mais adequado para as necessidades do paciente.

 

Medicina personalizada

A medicina genômica é conhecida como a medicina dos cinco ‘P’s. Isso porque ela é personalizada, preditiva, preventiva, pró-ativa e participativa.

  • Personalizada: é baseada no conhecimento das características genômicas altamente individuais de cada pessoa;
  • Preditiva: usa mapas genômicos de suscetibilidade a doenças para prever, de maneira probabilística, o futuro médico dos pacientes enquanto eles ainda estão sadios;
  • Preventiva: através do conhecimento do mapa de predisposições genéticas de cada indivíduo é possível ajustar o ambiente ao seu genoma e assim prevenir o aparecimento das doenças;
  • Pró-ativa: visa agir ativamente em prol da manutenção da saúde;
  • Participativa: o próprio indivíduo sadio se empenha e participa da busca por informações genômicas para decidir, junto com os geneticistas e os seus próprios médicos, a melhor maneira de lidar com suas predisposições genéticas reveladas por modernos testes de DNA.

Uma vez que você conhecer as variações genômicas que determinam as suas predisposições e resistências individuais, será possível manipular o ambiente (estilo de vida, dieta, adição ou remoção de fármacos, frequência de exames clínicos e laboratoriais) de forma a manter um equilíbrio harmônico  entre genoma e ambiente, melhorando a saúde e qualidade de vida.

Como funciona a medicina genômica?

A expansão da disponibilidade de testes genéticos e genômicos permite que médicos realizem diagnósticos precisos de condições precocemente, identifiquem os tratamentos mais eficazes e prevejam os resultados para os pacientes. Esta abordagem personaliza o tratamento conforme as características individuais de cada paciente, otimizando a eficácia terapêutica e minimizando riscos e efeitos colaterais.

Testes genéticos e sua aplicação

O teste genético consiste nos processos e técnicas usadas para determinar detalhes sobre o seu DNA. Dependendo do teste, pode revelar informações sobre sua saúde e ascendência. A medicina genômica possibilita a realização do teste preditivo para quem tem um familiar com doença genética. Os resultados ajudam a determinar o risco de uma pessoa desenvolver um distúrbio específico antes de qualquer sintoma.

O teste de diagnóstico é usado para confirmar ou descartar uma suspeita de doença genética, auxiliando na tomada de decisões sobre como tratar ou controlar sua saúde.

A tecnologia CRISPR e edição de genes

A tecnologia CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) está revolucionando as pesquisas genéticas ao permitir a edição do DNA e modificação de características dos organismos em benefício da sociedade. Em resumo, a edição de genomas permite a correção de genes defeituosos em animais e reescrever genomas inteiros de microrganismos.

Avanços recentes e estudos de caso

O potencial revolucionário da genômica na medicina ganha destaque nas pesquisas sobre câncer. A análise do DNA do tumor e as particularidades dos pacientes têm feito a diferença no rastreamento, diagnóstico e tratamento.

Em famílias com histórico de câncer de mama ou próstata, a realização de painéis de sequenciamento genético possibilita detectar mutações perigosas, que predispõem à doença.  A partir daí, pode-se fazer um acompanhamento e aconselhamento personalizados, e tomar medidas que diminuam o risco.

Testes moleculares feitos nos tumores, por sua vez, são saídas cada vez mais usadas para individualizar os tratamentos, muito além da quimioterapia e radioterapia.

Isso porque conhecer as características do câncer é a chave para indicar estratégias terapêuticas cada vez mais certeiras com o uso de inovações como terapia-alvo, imunoterapia e CAR-T.

A medicina genômica tem revolucionado o tratamento de câncer por meio de abordagens individualizadas:

  • A terapia com células CAR-T utiliza as células T do sistema imunológico, essenciais para a defesa do organismo contra vírus e outras doenças. Apesar de não ser tão difundida quanto os inibidores de checkpoint imunológico, essa terapia tem mostrado a mesma eficácia de erradicar leucemias e linfomas avançados e de manter o câncer sob controle por muitos anos.
  • O abemaciclibe, um medicamento para tratamento de câncer de mama de alto risco, demonstrou reduzir em 32% o risco de recidiva do tumor após cinco anos de uso. Este medicamento apresentou também benefícios quando utilizado por dois anos, aumentando a chance de sobrevida livre da doença, com um perfil de segurança elevado.

Benefícios da medicina genômica

Para o indivíduo:

  • Tratamentos personalizados: terapias adaptadas às características genéticas aumentam a eficácia e reduzem os riscos de reações adversas.
  • Diagnóstico precoce e preciso: permite identificar doenças genéticas e hereditárias em estágios iniciais, facilitando a gestão eficaz da saúde.
  • Prevenção de doenças: capacita os indivíduos a compreender seus riscos genéticos e adotar medidas preventivas.
  • Melhoria na qualidade de vida: tratamentos mais eficazes contribuem para uma melhor qualidade de vida.

Para a sociedade:

  • Redução de custos de saúde: evita tratamentos ineficazes e diagnósticos tardios, diminuindo os custos de saúde.
  • Avanço no conhecimento médico: contribui para o desenvolvimento de novas terapias e ampliação do entendimento das bases genéticas das doenças.
  • Saúde pública eficiente: facilita o planejamento e implementação de programas de saúde pública baseados em evidências genéticas.

Desafios e considerações éticas

A medicina genômica enfrenta desafios e considerações éticas importantes. Um desafio é interpretar e gerenciar grandes volumes de dados genéticos, garantindo sua precisão para evitar diagnósticos imprecisos. Outra questão é garantir acesso equitativo aos testes genômicos e tratamentos personalizados, considerando custos e disponibilidade. Aspectos éticos incluem privacidade e confidencialidade dos dados genéticos, bem como a possibilidade de discriminação. Além disso, há debates sobre consentimento para o uso de dados genéticos em pesquisa secundária.

Privacidade e dados genéticos

A ampla disponibilidade de dados genômicos trouxe mudanças significativas nas considerações de privacidade. A área enfrenta o difícil equilíbrio entre disponibilizar os seus dados para alguns fins e mantê-los privados por outros motivos. Também existem preocupações sobre a potencial discriminação com base em informações sobre o DNA de uma pessoa.

Acessibilidade e desigualdades

A principal barreira para a implementação da medicina genômica é a acessibilidade. As tecnologias necessárias, como sequenciamento genético e análise de big data, podem ser limitadas e caras, especialmente em regiões menos desenvolvidas. Isso cria desigualdades no acesso aos cuidados personalizados e mais seguros.

O futuro da medicina genômica

O futuro da medicina genômica promete revolucionar a saúde, com cuidados mais individualizados e eficientes. Com o avanço das tecnologias de sequenciamento de DNA e integração de grandes volumes de dados genéticos e de saúde, espera-se prevenir doenças com precisão, oferecer diagnósticos precoces e tratamentos altamente personalizados. Além disso, há potencial para cura de doenças genéticas antes consideradas intratáveis e otimização da resposta terapêutica, minimizando efeitos colaterais e aumentando a eficácia do tratamento.

Perguntas frequentes

O que é medicina genômica?

A medicina genômica é uma área da saúde que utiliza a análise do DNA para prever a predisposição a doenças e determinar quais tratamentos são mais eficazes para o paciente, baseado em seu perfil genético. Essa abordagem está no cerne da medicina de precisão e permite estratégias personalizadas de rastreamento, prevenção, diagnóstico e tratamento, incluindo aconselhamento genético.

Como posso ter acesso a testes genéticos?

Os testes genéticos estão cada vez mais acessíveis devido à redução de custos e ao avanço tecnológico. Você pode acessá-los através de consultas médicas especializadas, onde um profissional da saúde pode recomendar o teste adequado para avaliar predisposições genéticas ou para definir estratégias de tratamento mais eficazes baseadas em seu genoma​.

A medicina genômica é segura?

Sim, a medicina genômica é segura. Essa abordagem fornece informações valiosas sobre a predisposição genética para doenças e a eficácia dos tratamentos. No entanto, é fundamental que a interpretação dos resultados seja feita por profissionais qualificados para garantir que as informações sejam usadas de maneira responsável e ética, respeitando a privacidade e a confidencialidade dos dados do paciente​.

Como a medicina genômica pode afetar o tratamento de doenças comuns?

A medicina genômica tem o potencial de transformar o tratamento de doenças comuns, permitindo diagnósticos mais precisos e a escolha de terapias personalizadas que são mais eficazes e têm menos efeitos colaterais.

Conclusão

A medicina genômica representa um salto revolucionário na abordagem da saúde, com seu potencial de oferecer tratamentos personalizados e diagnósticos mais precisos. Essa evolução destaca a importância de entender as características genéticas únicas de cada indivíduo para promover a saúde e oferecer um tratamento mais seguro e eficaz para todos.

Dr. Marcelo Cruz é médico pela UNICAMP, oncologista clínico dos Oncologistas Associados e Grupo Orizonti, Fellow do Programa de Desenvolvimento de Novas Terapias (Developmental Therapeutics Program), Mestre em Pesquisa Clínica pela Feinberg School of Medicine Northwestern University, Chicago – EUA.